Acordei meio em cima da hora naquele domingo, 5 de dezembro.
A largada do passeio promovido pela Terra Bike estava marcado para 9:30
Confesso que relutei um pouco em ir, mas queria rever o pessoal.
Muita gente que não costuma pedalar comigo estaria lá, como meu sócio Flavio, por exemplo.
Saí de casa 9:20h. Cheguei em cima da hora, mas ainda em tempo de bater um papo com a moçada, tirar algumas fotos...
O passeio se desenhava bem light, afinal havia muita gente, e apesar do percurso incluir o temível Vira-zói, a quantidade de pedalantes por si só já frearia o pedal.
Mas ninguém contava com o pneu furado do Herbert. O que nos atrasou bastante e na ânsia de tirar o atraso lá fomos nós descendo desembestados.
Da meia dúzia de bikers que ficou pra dar uma mão no conserto do pneu eu fui o segundo a largar.
Logo adiante, uns 2 km, iniciava-se o trecho mais perigoso do Vira-Zói.
Quando já me preparava psicologicamente pra enfrentar a descida, que todos que por lá já passaram, sabem que não é mole, vi uma moto sair de um sitio a esquerda, bem na frente do Eduardo 22 da Bike Force. Ele deu um berro e preparou-se para o pior.
Como eu sei que o Eduardo é safo eu me preocupei apenas em ir para o outro lado da pista pra evitar piorar a situação.
Mas aquele lado da pista sempre está ruim.
E num degrau formado pelos paralelepípedos que começavam a formar o calçamento da descida, eu vi minha Merida perder totalmente o controle e eu ser lançado como uma flecha, vendo a bike passando por cima da minha cabeça. Segundo os cálculos do pessoal devo ter voado algo em torno de 5 metros, e depois de aterrissar no chão capotei por mais uns 10 metros.
Saldo da tragédia: Eu esparramado no chão sem nenhuma condição de me levantar devido a dores insuportáveis nas costas.
Neste momento bate aquele medo que assombra todo mundo: Iiiiiii, danou-se! To paralitico!
Providencial foi a intervenção do Jeferson, ciclista paramédico que estava junto com a gente no pedal. Verificou todos meus sinais vitais, reflexos e constatou que eu estava bem, dentro das possibilidades.
O motoqueiro que acompanhava o pedal foi ate um ponto onde pegava celular e ligou para o resgate.
Fiquei aproximadamente uma hora e meia deitado de barriga pra cima, sem poder me mover, aguardando a chegada do socorro.
O acesso não era nada fácil, o retorno, comigo lá dentro da ambulância, morrendo de dor, e chacoalhando feito banana em liquidificador de quitanda, foi pior ainda.
Direto para o HPS, radiografias do corpo todo, analgésico na veia e observação de 15h as 23h, quando constatou-se que não havia fraturas.
Flavio e Nando Ciribelli se incumbiram de pedir minha transferência para o Monte Sinai.
Chegando lá duas tomografias e uma ressonância mostraram que havia sim fraturas nos Processos Transversos das vértebras lombares L1, L2 e L3.
Este tipo de fratura não traz nenhum risco para a mobilidade do acidentado, mas causa dores insuportáveis, tanto que na primeira noite no Monte Sinai fui sedado com morfina para conseguir dormir.
Passei de domingo a quinta feira imóvel na cama, sem levantar, sem sentar, sem me alimentar. Fazia xixi na própria cama, naquelas indefectíveis vasilhinhas próprias. Evitei comer coisas solidas para não ter que defecar pois se já não estava sendo fácil fazer xixi na vasilhinha imagine coco!!
Na sexta feira pela manhã minha irmã Heli providenciou um colete e um andador e eu pude então pela primeira vez me levantar, caminhar um pouco e me sentar, mas não sem sentir fortes dores, apesar dos remédios.
No sábado tive alta por volta de 15h. Vim para a casa da minha mãe.
Thanius e Thales se revezando nos cuidados comigo, por 24h, me levantando da cama, me deitando, me dando banho, alimentando, dando remédios, etc....affff...nada facil, principalmente pra eles coitados!
Passei o final de semana relativamente bem, mas as dores estavam mais fortes, afinal os analgésicos que no hospital eram intravenosos, em casa seriam via oral, com efeito muito mais demorado e menor.
Meu quadro não havia se alterado muito e eu já estava me acostumando com a idéia de ter bastante paciência para esperar os ossinhos “colarem”, e enquanto isso seguiria sentindo dores e tendo que ter a ajuda dos meninos para as minhas necessidades mais básicas.
Na terça feira, ontem, tudo virou de cabeça pra baixo. Mais uma intervenção da minha irmã Heli e as 16h Lívia Saço, uma jovem fisioterapeuta, estava na minha frente dizendo que eu poderia fazer aquilo que meu corpo insistia em berrar que não dava.
Após umas aplicações de uns choquinhos nas costas, muita massagem, estica daqui, espreme de lá, levanta, anda, senta, mexe...enfim, depois de bagunçar o coreto ela simplesmente foi embora deixando-me a recomendação de que eu deveria, pelo menos, me sentar por 10 minutos pela manhã e à tarde, e caminhar por também 10 minutos nestes mesmos períodos.
Ela saiu e me deixou sentado na cama, coisa que antes, se passasse de 30 segundos eu já urrava de dor.
Ali permaneci e fui gostando da brincadeira.
Moral da história, ela saiu 17h, e já eram 23h e eu nem queria saber de cama! Nem eu mesmo acreditei!
Não teve volta mais. Passei pouquíssimo tempo na cama. Jantei sentado, tomei banho sozinho (pela primeira vez em 10 dias) e sem colete.
Pude sentar no computador, responder a um monte de e-mails, falar no MSN e até mesmo postar, depois de um longo período parado, neste blog que ora você lê.
Bem que eu gostaria de ter voltado a postar com um outro assunto, menos dramático, mas pelo menos voltei!
Nas turbulências desses dias alguém me disse que isso daria até um livro, e isso me despertou uma coisa que vem adormecida em mim há muito tempo.
Eu sempre brinquei com meus amigos quando dizia: “Já tive filhos e já plantei árvores, falta agora escrever um livro”. E assim será.
Essa semana começo as pesquisas para minha estréia no mundo cultural.
Acho que dentro de um ano já estarei convidando-os para a noite de autógrafos.
Anotem e me cobrem.
Quero tornar público aqui os meus agradecimentos a todos aqueles que me visitaram, que me enviaram mensagens, que me enviaram e-mails, que mandaram recados, que telefonaram, que rezaram por mim, que fixaram o pensamento positivo em mim.
Vocês foram os enormes responsáveis pela recuperação que estou tendo.
Não quero citar nomes pra não ser injusto com alguém, porque foi muita gente, uma verdadeira corrente do bem.
Até ontem eu sabia que tinha companheiros maravilhosos de trilhas de bikes, hoje eu descobri que tenho uma verdadeira fortuna em amigos.
Um ponto forte nisso tudo foi constatar que meus filhos viraram homens e que foi-se o tempo em que eu que cuidava deles.